Clipping

O futuro imediato a partir de Biden

Por José Luís Fiori

When the U.S. pulls back, one of the two things is likely to happen: either another country tries to take our place, but not in a way that advances our interests and values or, maybe just as bad, no one steps up, and then we get chaos and all the dangers it creates. Either way, that’s not good for America.

Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano. “Confidence, humility, and the United States’ new direction in the World”. Foreign Policy (foreign policy.com). March 4, 2021

***

Cinco semanas depois da posse do governo democrata de Joe Biden, já é possível especular sobre os próximos quatro anos da vida política americana, e sobre a viabilidade da nova política externa dos Estados Unidos anunciada pelo presidente na Reunião Anual de Segurança de Munique, no dia de 19 de fevereiro recém-passado, em que afirmou insistentemente que “os EUA estão de volta para liderar”.

A coalizão de forças que se reuniu em torno da candidatura de Joe Biden foi muito além do Partido Democrata e incluiu setores da direita militar norte-americana. Seu objetivo comum foi derrotar Donald Trump, e se possível retirá-lo da vida política do país. Mas nesse momento, a luta interna dentro desta coalisão ainda está restrita à disputa pelos principais cargos do primeiro e segundo escalões do governo. Assim, o que mais se destaca na imprensa neste momento são os discursos e as primeiras decisões e iniciativas de Biden, sobretudo sua “agenda interna”, fortemente liberal e radicalmente anti-Trump. E também no campo da política externa, onde o governo já tomou algumas decisões mais chamativas e que estavam anunciadas desde antes da eleição.

Inscrevem-se neste mesmo objetivo, de marcar a identidade e diferença da administração anterior, as primeiras iniciativas tomadas no campo da saúde, da defesa ambiental, da imigração, da proteção das minorias e das causas identitárias, apoiadas por Kamala Harris, incluindo várias bandeiras mais radicais da candidatura de Bernie Sanders. Da mesma forma, no campo internacional, sinalizando um retorno ao multilateralismo tradicional da política externa americana, e do “liberal-cosmopolitismo globalitário” dos democratas, o governo Biden voltou ao Acordo de Paris, à OMS, ao G7, assinou a renovação imediata do Acordo New Start de limitação de armas estratégicas, com a Rússia, deu os primeiros passos para voltar ao acordo nuclear com o Irã e desistiu da retirada imediata das tropas americanas da Alemanha.

Além disso, no seu discurso em Munique, Biden fez um grande esforço de reaproximação com seus antigos aliados europeus, em particular Alemanha e França, e sublinhou insistentemente sua disposição calorosa de voltar a juntar-se com seus antigos parceiros do grupo dos “países democráticos”, para barrar o avanço dos “países autoritários”, que mesmo sem ser nominados, já foram transformados no novo espantalho encarregado de reunificar o bloco atlântico tão bem-sucedido durante a Guerra Fria. Até aí nenhuma grande novidade com relação aos governos de Bill Clinton, e sobretudo de Barack Obama, de onde saíram quase todos os principais quadros do governo Biden.

O problema, entretanto, é que o futuro não costuma nascer das boas intenções dos governantes. Pelo contrário, costuma nascer muito mais dos obstáculos e oposições que esses governantes vão encontrando pelo caminho. E, no caso de Biden, a oposição e os obstáculos do seu caminho parecem já estar plenamente desenhados no horizonte próximo do presidente e sua equipe de governo – começando pelo plano interno, onde se esconde a principal ameaça ao seu projeto de poder, que serão as eleições parlamentares de 2022.

Saiba mais em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Pelo-Mundo/O-futuro-imediato-a-partir-de-Biden/6/50088

Comente aqui