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A moratória de quatro anos para os democratas

A questão mais importante que Joe Biden enfrenta é como Donald Trump conseguiu um número ainda maior de votos do que há quatro anos, apesar de suas mentiras, corrupção e tratamento desastroso da pandemia

Por Dani Rodrik

CAMBRIDGE – Enquanto Joe Biden conquistava uma vitória na eleição presidencial dos EUA após alguns dias de suspense, observadores da democracia norte-americana coçavam suas cabeças. Estimulados pelas pesquisas, muitos esperavam uma vitória esmagadora para os democratas, com o partido conquistando não apenas a Casa Branca, mas também o Senado. Como Donald Trump conseguiu manter o apoio de tantos norte-americanos – recebendo um número ainda maior de votos do que há quatro anos – apesar de suas mentiras flagrantes, corrupção evidente e tratamento desastroso da pandemia?

A importância dessa questão vai além da política norte-americana. Os partidos de centro-esquerda em todos os lugares estão tentando reviver seu sucesso eleitoral contra os populistas de direita. Embora Biden tenha um temperamento basicamente centrista, a plataforma do Partido Democrata moveu-se consideravelmente para a esquerda – pelo menos para os padrões norte-americanos. Uma vitória democrata decisiva teria sido um impulso significativo para o ânimo da esquerda moderada: talvez tudo o que seja necessário para vencer seja combinar políticas econômicas progressistas com apego a valores democráticos e decência humana básica.

O debate já começou sobre como os democratas poderiam ter tido resultado melhor . Infelizmente, sua vitória estreita não facilita chegar a conclusões. A política norte-americana gira em torno de dois eixos: cultura e economia. Em ambos os conjuntos de questões, podemos encontrar aqueles que culpam os democratas por terem ido longe demais e aqueles que os culpam por não terem ido longe o suficiente. As guerras culturais colocam as regiões socialmente conservadoras do país, predominantemente brancas, contra as áreas metropolitanas onde as chamadas atitudes “woke” [conscientes das injustiças, especialmente raciais e sociais] tornaram-se predominantes. De um lado, temos os valores familiares, a oposição ao aborto e o direito às armas. Do outro, temos direitos LGBT, justiça social e oposição ao “racismo sistêmico”.

Muitos dos que votaram em Trump consideraram o apoio dos democratas aos protestos de rua deste ano contra a brutalidade policial como uma desculpa para a violência e manchando a nação como um todo com o amplo pincel do racismo. Enquanto Biden teve o cuidado de falar contra a violência, os democratas tornaram-se suscetíveis a acusações de exibicionismo moral e maculação dos valores tradicionais dos EUA.. Para outros, o apoio continuado a Trump apenas confirma o quanto o racismo e a intolerância estão arraigados e a necessidade urgente do Partido Democrata de combatê-los.

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