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Como o dinheiro grande corrompe nossa política (e como corrigir)

O dinheiro corporativo está dominando nossa democracia.

Por Robert Reich / Créditos da foto: (Reprodução/Common Dreams)/ Tradução de César Locatelli

É difícil fazer qualquer coisa – aumentar o salário mínimo, reverter a mudança climática, obter Medicare for All (Saúde Universal), acabar com as mortes por policiais, lutar contra o racismo sistêmico, reduzir nosso exército inchado – enquanto o dinheiro grande controlar nossa política e ditar quais políticas são e não implementadas.

A pandemia deixou isso mais claro do que nunca. A Lei CARES, aprovada no final de março quando nossa resposta à pandemia começou, silenciosamente forneceu enormes benefícios para os norte-americanos ricos e grandes corporações. Uma de suas disposições distribuiu US$ 135 bilhões em redução de impostos para pessoas que ganham pelo menos meio milhão de dólares, o 1% mais rico dos contribuintes norte-americanos.

Esses US$ 135 bilhões são três vezes mais do que os desprezíveis US$ 42 bilhões alocados na Lei CARES para programas da rede de proteção, como ajuda alimentar e de moradia. É pouco menos que o montante de US$ 150 bilhões destinado aos governos estaduais em dificuldades e muito mais do que os US$ 100 bilhões que estão sendo gastos em hospitais superlotados e outros serviços de saúde pública cruciais.

Enquanto os norte-americanos ainda sofrem com o desemprego em massa e a devastação da pandemia, os lobistas estão rastejando por todo o Capitólio e a Casa Branca em busca de subsídios contínuos para os ricos e para as corporações – enquanto exigem o fim da assistência suplementar para os trabalhadores médios, os pobres e os desempregados.

É a corrupção em ação, amigos. Que, a cada rodada, mina nossa democracia.

Pergunte a si mesmo como, durante uma pandemia global, o patrimônio líquido total dos bilionários dos EUA subiu de US$ 2,9 trilhões para US$ 3,5 trilhões, quando mais de 45,5 milhões de americanos pediram seguro-desemprego.

É pela capacidade deles? Pela sorte deles? Por seus insights? Não. São seus monopólios, possibilitados por seu domínio sobre a democracia norte-americana … monopólios como Amazon, Google e Facebook, que se tornaram ainda maiores durante a pandemia.

É também pelo acesso a informações privilegiadas para que possam ter um bom desempenho no mercado de ações, como o senador Richard Burr, presidente do comitê de inteligência do Senado, e a senadora Kelly Loeffler, cujo marido, casualmente, é presidente da Bolsa de Valores de Nova York. Ambos receberam informações completas sobre os prováveis efeitos do coronavírus em fevereiro passado e prontamente se desfizeram de suas posições em ações de empresas que seriam mais atingidas.

E pelos cortes de impostos e subsídios que eles espremeram do governo.

Você está pagando por tudo isso – não apenas como contribuinte, mas como consumidor.

Quando se segue o caminho do dinheiro, pode-se ver claramente como todos os aspectos da vida norte-americana foram corrompidos.

Veja o exemplo de medicamentos sujeitos a receita médica. Gastamos dezenas de bilhões de dólares em prescrições todos os anos, muito mais por pessoa do que os cidadãos de qualquer outro país desenvolvido. Agora que milhões de norte-americanos estão desempregados e sem seguro, eles precisam mais do que nunca de medicamentos controlados a preços acessíveis.

Mesmo assim, os preços dos medicamentos necessários aos pacientes com coronavírus estão disparando. A gigante farmacêutica Gilead está cobrando US$ 3.120 por seu remédio para COVID, Remdesivir, embora o remédio tenha sido desenvolvido com uma dotação de US$ 70 milhões do governo federal paga pelos contribuintes norte-americanos.

Mais uma vez, a Big Pharma [o grupo das grandes da indústria farmacêutica] é posicionada para lucrar com o dinheiro do povo. E elas escapam impunes porque nossos legisladores dependem de suas doações de campanha para permanecerem no poder.

Enquanto você assiste a isso, Mitch McConnell está ativamente bloqueando um projeto de lei elaborado pelos republicanos do Senado para reduzir os preços dos medicamentos – depois de receber mais de US$ 280.000 de empresas farmacêuticas, até o momento, nesta temporada de eleições.

A Big Pharma é apenas um exemplo. Esse ciclo vicioso é encontrado em praticamente todos os setores, e é por isso que continuamos a nos encontrar com políticos que não pensam em nossos melhores interesses.

Então, como podemos tirar o dinheiro grande de nossa democracia?

Um bom ponto de partida pode ser encontrado no pacote de reforma abrangente conhecido como H.R. 1 – a Lei Para o Povo. O projeto fecha lacunas que favorecem as grandes corporações e os ricos, torna mais fácil para todos nós votarmos e fortalece o poder dos pequenos doadores por meio do financiamento público das eleições – um sistema que complementa, com US$ 6 de recursos públicos, cada US$ 1 de pequenas doações.

A Lei para o Povo também impediria congressistas de atuarem em conselhos corporativos, exigiria que os presidentes tornassem públicas suas declarações de impostos e faria com que os nomeados pelos executivo se recusassem a trabalhar em casos em que houvesse conflito de interesses.

Esses são apenas alguns exemplos de soluções tangíveis que já existem para controlar a corrupção sem precedentes e impedir a queda dos EUA em direção à oligarquia – mas há muito mais que podemos e devemos fazer.

O importante a lembrar é que a apropriação do dinheiro de nossa democracia nos impede de fazer avançar todas as políticas que precisamos para reformar nosso sistema racista e opressor e criar uma sociedade que trabalhe para muitos, não para poucos.

Veja em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Pelo-Mundo/Como-o-dinheiro-grande-corrompe-nossa-politica-e-como-corrigir-/6/48632

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