No Brasil, tornaram-se território de medo e desigualdades. Transformação exigirá resgatar ideias de Cuidado e Bem-viver. Primeiro passo: enfrentar oligopólios dos serviços públicos e adotar nova economia, limpa e comunitária .
Por Silvana Bragatto e Célio Turino
Em 11 de maio de 2019 o papa Francisco divulga uma carta convidando rapazes e moças de boa vontade, estudantes de economia, jovens empresários e empreendedores sociais, a participarem de um “pacto comum”, inspirados por um ideal de fraternidade atenta, sobretudo aos pobres e excluídos, comprometendo-se a cultivar juntos o sonho de um novo humanismo. Foi o chamado para o encontro pela “Economia de Francisco”, que deveria ter sido realizado na cidade de Assis, Itália, entre os dias 26 e 28 de março de 2020. Assumindo o nome do “Santo Homem de Assis”, disse o papa: “São Francisco nos oferece um ideal e, em certo sentido, um programa”.
Por conta da pandemia de covid, o encontro teve que ser transferido e terá que ser realizado de forma não presencial em novembro próximo. Mas o chamado já estava lançado, e a busca por um ideal comum, de quem pretende “responder e não dar as costas, sentindo-se parte de uma cultura nova e corajosa, sem medo de enfrentar riscos e trabalhar para construir uma nova sociedade”, conforme palavras de Francisco, o papa, seguiu adiante, unindo jovens de todo o mundo. No Brasil foi realizado o primeiro encontro brasileiro pela Economia de Francisco, em novembro de 2019 e a partir de então, centenas juntaram-se ao chamado, em uma frente intergeracional, laica e plural, formando a ABEFC – Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara. Incorporando o nome de Santa Clara de Assis, os brasileiros assumem claramente que, para a concretização de uma ecologia integral e um novo pacto de fraternidade e compromisso com o cuidado da Casa Comum, feminino e masculino tem que caminhar lado a lado.
É sob o signo deste chamado que apresentamos esses elementos para programas municipais de governo baseados nos princípios da Economia de Francisco e Clara, em propostas simples, diretas e exequíveis, abertas e disponíveis aos governantes, políticos, cidadãs e cidadãos que queiram abraçá-las em uma busca por um outro marco para Re-Envolver e Re-almar as cidades. Não uma alternativa de desenvolvimento, mas uma alternativa ao próprio Des-Envolvimento, em que a economia caminha separada da vida.
Um programa de Francisco e Clara propugna por uma Economia da Vida, com Alma e com a opção pelos pobres, pela gentileza, pela natureza, pela comunhão, pela bondade e colaboração. São muitas e generosas as economias que estão a desabrochar: a economia popular, a economia solidária, da reciprocidade, da dádiva, da comunhão, do cuidado, as economias feministas, a economia do Bem Viver. Essas economias não podem continuar sendo pensadas como “economias da margem”, das franjas, debatendo-se para subsistir; ao contrário, por serem economias vinculadas a processos de vida, será a partir delas que se poderá Re-Almar a economia das cidades, dos países e do globo. Realmar e reenvolver significa reconectar pessoas e natureza, sociedade e ambiente em unidade, em economias do cuidado com a Casa Comum. Com elas está sendo parida a Economia Viva para o século XXI e além, por isso o convite, sobretudo em tempos de eleições municipais, para que muitos municípios do Brasil se disponham à nobre função de parteiras dessas novas economias que estão por vir.
Saiba mais em: https://outraspalavras.net/cidadesemtranse/eleicoes-para-construir-as-cidades-do-comum/
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