Em uma nova entrevista, Noam Chomsky discute a pandemia de coronavírus, a guerra de classes promovida por Trump e Bolsonaro, as depravações do capitalismo e a necessidade urgente de uma nova era de solidariedade e luta socialista.
MA ENTREVISTA COM NOAM CHOMSKY Tradução Caue Seigner Ameni
Por décadas, Noam Chomsky tem sido um dos principais dissidentes intelectuais. Seus livros e discursos ajudaram a explicar como um mundo dirigido por corporações e bilionários levou a uma guerra sem fim e a mudanças climáticas catastróficas. Agora ele está ajudando a explicar como empresas e bilionários estão realmente piorando a pandemia de coronavírus, adotando políticas selvagens que se beneficiam às custas de todos os outros.
Chris Brooks entrevistou o professor Chomsky em 10 de abril para aprender mais sobre como chegamos a esse momento – e o que é necessário fazer para resistir.
Gostaria de começar pensando no momento sem precedentes em que estamos. Obviamente, estamos no meio de uma pandemia e recessão global e, agora, milhões de pessoas nos se veem desempregadas e sem garantias, enquanto nosso sistema de saúde está colapsando e carece de leitos hospitalares e ventiladores e equipamentos de proteção individual (EPI) de que precisamos. Você poderia descrever como entender o momento atual em que estamos e as escolhas políticas que nos trouxeram até aqui?
NC
Bem, antes de tudo, devemos reconhecer que, a menos que cheguemos às raízes dos problemas na pandemia, isso vai se repetir, provavelmente de forma pior, simplesmente por causa das manipulações do sistema capitalista, que está criando circunstâncias para seu benefício. Podemos ver isso na lista de estímulos, entre muitas outras coisas.
Segundo, por causa do aquecimento global que está acontecendo e coloca tudo isso na sombra, nos recuperaremos disso a um custo severo. Não vamos nos recuperar do derretimento contínuo das camadas de gelo polares. E se você quiser entender como o capital contemporâneo está vendo isso, dê uma olhada no governo Trump. É verdade que esse é um extremo patológico do sistema capitalista e talvez não seja justo usá-lo como exemplo, mas é com isso que estamos vivendo.
Em 10 de fevereiro, enquanto a epidemia estava furiosa e piorando, Trump apresentou suas propostas de orçamento. O que elas eram? Primeiro ponto: continuar com o desembolso dos elementos relacionados à saúde. Ao longo de seu mandato, ele reduziu o financiamento de tudo, menos das políticas que beneficiam poder e riqueza das corporações. Portanto, todas as partes do governo relacionadas à saúde foram cada vez mais privadas de financiamento. Ele foi matando aos poucos os programas sociais.
Retirada de fundos adicionais dos Centros de Controle de Doenças (CDC) e de outras partes do governo relacionadas à saúde. Mas também houve aumentos compensatórios no orçamento, mais subsídios à indústria de combustíveis fósseis. É como se dissesse: vamos não apenas matar o maior número de pessoas possível agora, mas vamos tentar destruir toda a sociedade. Isso é basicamente o que essas ações significam. Claro, havia também mais recursos para os militares e para o seu famoso muro.
Mas essas duas coisas se destacam muito claramente como uma indicação da criminalidade que é antes de tudo endêmica e reforçado numa Casa Branca sociopática. É claro que Trump não pode ser responsabilizado sozinho por tudo isso. Após a epidemia de SARS em 2003 – também um coronavírus – foi bem entendido pelos cientistas que outras recorrências de um ou outro coronavírus viriam, provavelmente mais graves. Bem, o entendimento não é suficiente. Alguém tem que pegar a bola e correr com ela. Agora existem duas possibilidades. Uma são as empresas farmacêuticas, mas elas seguem uma lógica capitalista normal. Você faz hoje o que vai lucrar amanhã e não se preocupa com o fato de que em alguns anos tudo entrará em colapso. Esse não é o seu problema. Então, as empresas farmacêuticas não fizeram nada nesse período e haviam coisas que podiam ser feitas. Havia muita informação circulando. Os cientistas sabiam o que fazer. Poderia ter se precavido melhor. Alguém tem que pagar por isso hoje e não são as empresas farmacêuticas. Bem, em um mundo racional, mesmo um mundo capitalista antes de Ronald Reagan, o governo poderia ter intervindo e feito alguma prevenção.
Saiba mais em: https://jacobin.com.br/2020/04/podemos-fazer-algumas-coisas-para-enfrentar-a-crise-do-coronavirus/
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