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Existe no Brasil um homem feliz?

Em poema, o criador dos Pontos de Cultura expõe um contraste: no Reino Unido, a população defende os imigrantes; aqui, ainda estamos imóveis diante da duradouro massacre indígena. Em busca de esperança, ele invoca Maiakovski

Por: Célio Turino | Crédito Foto: Anderson Barbosa/Amazônia Latitude.

Hoje acordei,
feliz,
ergueu-se como muralha humana,
o povo,
homens e mulheres,
crianças e velhos,
postos à frente,
defendendo a carne,
o sangue
e a dignidade
dos povos imigrantes.

Hoje acordei,
feliz,
e vi,
no Reino Unido,
um grito contra o ódio,
um punho cerrado,
contra o veneno da extrema direita.

Ali, em cada esquina,
em cada hotel,
mesquita,
abrigo,
loja,
o povo ergueu-se,
feito muralha,
feito mãe,
protegendo seus irmãos,
e filhos,
aqueles que vieram de longe,
procurando abrigo,
procurando paz,
um canto a recomeçar a vida.

Hoje acordei,
triste,
e chorei.
Meu Brasil,
ainda mudo,
ainda cego,
ainda surdo,
para o clamor dos primeiros,
a gente originária
desta terra,
os que respiram o verde,
os que são a raiz
e cultivam bons frutos,
ares
e água boa.

Hoje acordei,
triste,
e vi,
meu Brasil
com as mãos sujas
de sangue ancestral
aguardando o Supremo
com toga nos ombros
a conciliar o inconciliável.
Dar os ombros
às ganâncias do invasor
e aos direitos do invadido.
Gente expulsa da terra,
Ancestral,

terra que é vida,
terra que é alma.

Hoje acordei,
triste,
e o grito sufocado dos povos indígenas
ainda ecoa.
Há quinhentos anos,
seguem acuados,
por invasores,
desmatadores,
latifundiários,
e bandidos.
Acuados
por violências e medos.
Por isso dizem:
“O marco não é temporal,
é ancestral!”

Hoje acordei,
e esperei,
o Brasil que eu amo,
erguer-se,
feito muralha,
feito mãe,
em defesa dos que estavam aqui,
Nossos irmãos
antes mesmo que o nome Brasil fosse dito.

Um dia meu povo
irá acordar
da tristeza
e dos medos.
Esse dia virá!

E o dia será feliz
porque o povo será feliz
em irmandade.

Disse Maiakovski:
“Dizem, que em algum lugar,
parece que no Brasil,
existe um homem feliz”

Hoje acordei,
e espero,
um país que desperte,
um povo que se levante,
em apoio decidido,
em apoio urgente,
aos que são a alma desta terra,
os que sempre estiveram aqui,
antes que houvesse sequer um nome,
para este chão
hoje conhecido como Brasil.
Era terra das Palmeiras,
e dos papagaios.
Pensou-se que era
o paraíso na Terra.

Nesse dia,
quando acordar
com o povo em levante,
reencontrando-se com sua raiz,
se trançando em seiva,
poderei responder:
“Existe no Brasil um homem feliz!”

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